Mais de 48 horas após o crime, prefeito que confessou ter matado policial no Maranhão continua solto

Mais de dois dias após matar a tiros o policial militar Gleidson Thiago da Silva dos Santos, conhecido como “Dos Santos”, o prefeito de Igarapé Grande, João Vitor Xavier (PDT), segue em liberdade, mesmo após pedido de prisão preventiva feito pela Polícia Civil do Maranhão. O caso, que causou grande repercussão no estado, continua sem uma decisão judicial definitiva contra o gestor.
O crime ocorreu na noite do domingo (6), durante uma vaquejada no Parque Maratá, em Trizidela do Vale. Segundo testemunhas, após um desentendimento, o prefeito teria disparado cinco vezes contra o PM, que estava fora de serviço. A vítima chegou a ser socorrida por uma ambulância da própria prefeitura e levada ao Hospital Geral de Peritoró, mas não resistiu aos ferimentos e morreu por volta das 23h40.
Na segunda-feira (7), João Vitor se apresentou espontaneamente à Delegacia Regional de Presidente Dutra, prestou depoimento e alegou legítima defesa. Ele admitiu que atirou contra o policial e confessou que portava uma arma sem registro há dois anos. Apesar da gravidade dos fatos e da confissão, o prefeito foi liberado por não ter sido presO delegado Márcio Coutinho, titular da Delegacia de Lago da Pedra, foi o responsável por formalizar o pedido de prisão preventiva do prefeito, encaminhado à Justiça na terça-feira (8). No entanto, o desembargador Jorge Rachid Mubárack Maluf, relator sorteado do Tribunal de Justiça do Maranhão (TJMA), decidiu redistribuir o caso, alegando que a matéria deveria ser analisada por uma das Câmaras Criminais da Corte, e não pelo Órgão Especial. O impasse processual acabou adiando qualquer decisão sobre a prisão de João Vitor.
Enquanto a Justiça não decide, o prefeito articula uma saída política para preservar o mandato. Ele protocolou junto à Câmara Municipal um pedido de licença de 125 dias, sob a justificativa de que está emocionalmente abalado e precisa de tratamento psiquiátrico. No documento, João Vitor afirma que enfrenta “profundo abalo psicológico” e menciona ser paciente bariátrico, condição que exigiria cuidados especiais. A licença pode ser interrompida a qualquer momento, permitindo seu retorno ao cargo mesmo antes do fim do prazo.
Todos os vereadores de Igarapé Grande pertencem à base de apoio do prefeito, o que pode inviabilizar qualquer iniciativa de cassação ou afastamento. A expectativa é que o pedido de licença seja aprovado por unanimidDurante esse período, quem deve assumir interinamente a Prefeitura é a vice-prefeita Maria Etelvina Sampaio Leite, também do PDT. Com 55 anos, ex-vereadora por três mandatos e natural de Igarapé Grande, Etelvina foi eleita na chapa de João Vitor em 2024 pela coligação “Pela Continuidade do Progresso”, formada por PDT e PL. A posse dela como prefeita interina deverá ocorrer por convocação da Câmara, que já articula uma sessão extraordinária.O afastamento temporário do prefeito não impede o avanço das investigações nem elimina a possibilidade de prisão. A Polícia Civil, por meio da 14ª Delegacia Regional de Pedreiras, mantém o inquérito em curso e reforçou o pedido de medidas cautelares à Justiça, como a busca e apreensão domiciliar. Caso o pedido de prisão preventiva seja aceito após redistribuição do processo, João Vitor poderá ser detido, mesmo estando de licença do cargo.
A repercussão do caso é intensa, especialmente entre representantes da segurança pública. Associações militares e familiares do policial morto cobram justiça e apontam possível favorecimento político na condução inicial do processo.
A expectativa é que mandado de prisão seja expedito e prefeito seja preso ainda nesta quarta-feira.